Acupunctura infantil


A obra Nei Jing – o maior e mais antigo tratado de medicina acupunctural – possui uma secção de pediatria, na qual a especialidade foi designada com o nome de Chao Siao (Chao = adolescente; Siao = menino com menos de seis anos).

A criança não é propriamente um adulto em miniatura. Na realidade, os seus sistemas energéticos estão ainda em formação e são muito frágeis, o que traz inconvenientes e vantagens.

Os inconvenientes reflectem-se na facilidade com que as crianças adoecem (sobretudo doenças provocadas por factores patogénicos externos) e na rapidez com que essas mesmas doenças progridem. As vantagens reflectem-se na facilidade com que a energia pode ser manipulada e equilibrada, tornando o ataque às patologias muito rápido e eficiente.

O uso da acupunctura infantil é, na China, muito usual e todos os dias podemos observar nos hospitais a sua aplicação, inclusive na cara, o que pode não ser muito agradável. A acupunctura em pediatria tem a ver com uma decisão dos pais e a dimensão cultural tem muito peso na tomada de decisão.

Na China, desde o avô ao neto, todos se submetem, naturalmente, a tratamentos de acupunctura. No Ocidente, quais os pais que não estão traumatizados pela lembrança de certas vacinações, de exames de sangue e outros que envolvem agulhas?!!!

Na realidade, as agulhas de acupunctura nada têm a ver com essas outras agulhas, mas a visualização do sofrimento passado está bem vivo. A Medicina Tradicional Chinesa tem outros métodos terapêuticos para as patologias infantis, mas a verdade é que a acupunctura tem efeitos mais rápidos.

A teoria básica para a acupunctura pediátrica é a mesma dos adultos, mas o acupunctor tem que ter atenção às características próprias do ser frágil que tem à sua frente, não minimizando o medo da agulha e o temor da picada.

Assim, há alguns aspectos a ter em conta:

Ter especial atenção à constituição e estado actual da criança.

Obter a confiança da criança.

Distrair a criança, chamando a sua atenção para outras coisas, como um brinquedo.

Escolher agulhas que sejam o mais finas possível.

Preferir agulhas descartáveis.

Inserir primeiro nos pontos menos dolorosos.
Usar o menor número de agulhas possível, recorrendo, se for necessário, a outras terapias.

Inserir, obter a sensação de Qi, e retirar a agulha, pois dada a actividade normal das crianças, as agulhas podem dobrar e dificultar a sua retirada. Na verdade, as crianças não colaboram com o terapeuta, e normalmente choram, gritam e agitam-se para fugir ao terapeuta.

Em crianças com mais de 6 anos, as agulhas podem ficar algum tempo, caso elas aceitem.

A acupunctura é realmente eficaz nos tratamentos pediátricos, mas é conveniente terminar o tratamento com uma massagem suave, pois a sensação é tão agradável que a criança poderá “esquecer” os aspectos menos agradáveis da acupunctura. Qual a criança que não se acalma com uma massagem no abdómen ou nas costas?

Autor
Manuel João Pinheiro, (Especialista em Medicina Tradicional Chinesa) ESMTC.