Setembro


Pan Yunyu (Chinese, active ca. 15th–16th century). Setting Sun on the Autumn River, 1604 or 1664. Folding fan mounted as an album leaf; ink and color on gold paper, 6 1/4 x 19 in. (15.9 x 48.3 cm).
The Metropolitan Museum of Art, New York, John Stewart Kennedy Fund, 1913 (13.100.79)

 

E agora as folhas caem, embora as árvores ainda estejam relativamente compostas. Algumas disfarçam muito bem, o que não evita que daqui a umas semanas estejam completamente nuas. Porém, belas. Não igualmente belas, diferentemente belas.

Mas o processo começou em Agosto, essa estação entre o Verão e o Outono que os chineses designam como Final de Verão e se prolonga até a Natureza lhe apetecer. Por conhecer o que tem de ser. O Yin dentro do yang, a queda dentro da plenitude, o vento dentro do sol, a humidade dentro da secura, uma coisa e o seu contrário em secreta ligação, em assombrosa proporção, para que o Universo permaneça íntegro, sem se esfarelar… demasiado.

É o mês sete (septem, do latim), pois o calendário romano tinha início em Março. Assim, tem um nome paradoxal, este mês nono a que chamamos sétimo, como se fosse um diminutivo, um nome de ternura ou uma cifra, pois estando espremido entre o final de Verão e o princípio do Outono, tem, sem dúvida, um problema de identidade que o nome, escondendo, é o primeiro a revelar.  O paradoxo, a incoerência e o contrário estão-lhe no sangue. Bem como a concertação. Quem sou eu? Sete ou nove? Sete e nove? Dezasseis? A substituição da disjuntiva “ou…ou” pela coordenação “e” é a porta de saída. E de entrada, pois uma saída proporciona sempre uma entrada.

O ditado “Em Setembro ardem os montes, secam as fontes” é bastante ilustrativo do ambiente de final de Verão, a queima dos últimos cartuxos, o esgotamento dos recursos naturais após um período de seca. Sete é, simbolicamente, o completar de um ciclo, sendo que quando um ciclo se fecha, outro se abre, há lugar à renovação. Contudo, o nove também completa um ciclo, ciclo maior, dada a natureza deste número como o maior número singular. Difere do ciclo de sete, pois aponta já para um lugar além ou um não lugar, estamos no domínio do invisível e do eterno. É o número dos mestres. E assim se juntam dois ciclos, o terreno e o celeste, sem os quais cada um estaria incompleto e imperfeito. Não há motivo para nos inquietarmos, Mestre Paradoxo vela por nós.

 

Risoleta Pinto Pedro