O sedentarismo, referido como a falta, ausência ou diminuição de atividade física, é considerado uma das doenças do século e um problema de saúde pública.

A vida sedentária é reconhecida como um factor de risco para o desenvolvimento de muitas doenças crónicas, incluindo doenças cardiovasculares que são uma das principais causas de morte no mundo ocidental. Uma vida activa proporciona muitos benefícios sociais e psicológicos, sendo que a actividade física, a saúde e a qualidade de vida estão intimamente interligadas (1).

Apesar disso, o mundo está a tornar-se menos ativo. As estimativas globais mostram que um em cada quatro adultos não pratica actividade física suficiente (2). À medida que os países se desenvolvem, os níveis de inatividade tendem a aumentar. O desenvolvimento tecnológico, que trouxe grandes facilidades e conforto à vida moderna, resulta num convite ao sedentarismo. Por outro lado, os ambientes de trabalho em escritório, que implicam na grande maioria dos casos ficar sentado durante muitas horas em frente ao computador, são outro factor potenciador do sedentarismo.

Algumas das consequências são mais imediatas, como dores nas costas, na cervical e na zona lombar, tensão muscular e mesmo contraturas e tendinites, mas há outras consequências que só mais tarde se manifestarão.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a urgência de implementar ações a nível mundial para incentivar as pessoas a serem mais ativas para um mundo mais saudável (3). Para aumentar os níveis de atividade física, uma das recomendações, segundo o Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física, da Direção Geral de Saúde (4), é a intervenção em contexto de trabalho.

Respondendo a este desafio e no âmbito do trabalho final de estágio do Curso de Instrutores de Chi Kung Terapêutico, da Escola de Medicina Tradicional Chinesa, em Lisboa, propôs-se divulgar o Chi Kung Terapêutico na prevenção do sedentarismo em ambiente laboral e estudar os efeitos da sua prática regular nas patologias associadas ao trabalho de escritório.

Inicialmente, dos 13 participantes neste estudo, quase metade (46%) não praticava qualquer actividade física, sendo que no final praticamente todos (92%) manifestaram interesse em prosseguir a prática de Chi Kung, o que é um indicador da aceitação do Chi Kung Terapêutico e do papel significativo e determinante que pode ter na prevenção do sedentarismo em ambiente laboral.

Com a prática de Chi Kung, todos os participantes (100%) sentiram melhorias ao nível do bem-estar, a grande maioria (92%) sentiu que a sua energia melhorou, que passou a conseguir relaxar melhor e que as articulações ficaram mais soltas. Mais de metade (62%) sentiu melhorias ao nível da postura e da respiração e a maioria (85%) considera que ganhou uma maior consciência corporal.

Em relação às patologias associadas ao trabalho sedentário, sobretudo às que se manifestam mais a curto prazo, resultantes da postura e das muitas horas de trabalho ao computador, a maioria dos participantes sentiu melhorias. Todos (100%) melhoraram das dores na cervical, e a grande maioria melhorou das dores nos ombros (92%), parte superior (83%) e inferior (91%) das costas e articulações (77%). Este foi o objetivo principal do trabalho desenvolvido nas práticas, com a realização de exercícios de Chi Kung para mobilizar as articulações, libertar tensões e mover a energia estagnada, que se reflete em dor.

Um dos aspetos muito positivos é que a grande maioria dos participantes (83%) integrou algumas das práticas de Chi Kung no seu dia-a-dia, nomeadamente os exercícios mais simples e fáceis de memorizar, como a respiração abdominal e a automassagem.

Para fazer face à vida moderna, às exigências familiares e profissionais às responsabilidades, aos choques emocionais, o Chi Kung é um método por excelência para fazer uma pausa, encontrar a harmonia e reconciliar o corpo e o espírito.

Embora seja uma técnica milenar, que surgiu de tempos imemoriais, o Chi Kung consegue integrar-se perfeitamente na vida moderna e pode ser facilmente adaptado a uma rotina laboral. Alguns exercícios podem mesmo ser introduzidos no dia-a-dia, realizados à secretária, para aliviar o desconforto sentido e acumulado.

A prática regular de Chi Kung aumenta a energia vital, fá-la circular e fluir harmoniosamente por todo o corpo, prevenido e promovendo a saúde e o bem-estar, o que terá reflexos num menor absentismo e maior produtividade.

A sensibilização e motivação da entidade patronal para que encare a prática de Chi Kung como uma mais valia para os seus colaboradores é um desafio que se apresenta aos instrutores de Chi Kung.

O Chi Kung pode desempenhar um papel essencial no combate ao sedentarismo, em particular no ambiente laboral, proporcionando o alívio dos sintomas associados ao trabalho sedentário e uma melhoria no bem-estar, contribuindo para um mundo mais saudável.

(1) Fonte: Coordenação DCRP. Orientações da União Europeia para a Actividade Física. Instituto do Desporto de Portugal. Julho de 2009 https://www.dgs.pt/ficheiros-de-upload-2013/pnpaf-idp-orientacoes-europ-af-jan2009-pdf.aspx
(2) Fonte: WHO. Health Topics. Physical activity. https://www.who.int/health-topics/physical-activity
(3) Fonte: WHO.Plano de Ação Global para a Atividade Física 2018-2030: Mais Pessoas Ativas para um Mundo Mais Saudável. WHO
(4) Fonte: Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física – Perguntas e Respostas https://www.dgs.pt/programa-nacional-para-a-promocao-da-atvidade-fisica/perguntas-e-respostas.aspx

*Artigo escrito por Margarida Aires