Como refere o Presidente da Universidade de Medicina Chinesa de Nanjing, Professor Dr. Wu Mianhua, “Primeiro devemos perceber que a investigação mecânica científica ocidental quebrou a Medicina Tradicional Chinesa em bocados. Sabemos que a MTC é a experiência de uma prática clínica longa, é um tipo de Medicina Tradicional utilizada na prevenção e tratamento de doenças. Situa-se na categoria da cultura científica. A Medicina Chinesa, actualmente, é a combinação da cultura científica e da cultura humanística, não é uma ciência natural simples, nem uma ciência humanística simples mas a combinação das duas. Portanto não podemos fazer uma aplicação simples, mecânica da ciência ao estudo e ao posicionamento da Medicina chinesa, isto não é apropriado e não respeita a essência da MTC”.
Como refere ainda o Presidente da Universidade de Nanjing “sob a influência da medicina moderna, a investigação, o sistema técnico compreensivo da MTC foi separado em técnicas e abordagens simples sem ligação, foi separado da ideia holística e perderam-se as características académicas do diagnóstico individual”. O Presidente recorda que a MTC nasceu da prática clínica e que a investigação deve nascer aí assente nas Teorias Clássicas e sistema de Diagnóstico e do Tratamento da MTC pela focalização nas manifestações clínicas observadas no paciente.
Ora como será fácil verificarem, no decorrer desta apresentação, desenvolver nos alunos o espírito e uma cultura científica tradicional potencia a sua capacidade de Observação e de Diagnóstico clínico.
Não existe só um tipo de caminho experimental em MTC, há uma abordagem global, um estado de espírito, uma cultura que se materializa por diferentes caminhos experimentais no terreno ou seja na prática clínica. Cada aluno deve desenvolver a sua competência científica do mesmo modo que deve apurar a sua competência terapêutica.
Como foi referido o espírito científico no aluno é algo que se vai construindo ao longo do curso de MTC. Para tal é importante que os professores entendam não só o que é uma investigação científica, como também o modo como podem contribuir para o seu desenvolvimento na sua disciplina.
Existem competências fundamentais ao desenvolvimento de um espírito e cultura científica que colocam em jogo um conjunto de atitudes e de saberes. Para cada uma delas podemos definir diferentes níveis de aquisição que podem ser obtidos sequencialmente. Destas destacamos as seguintes:
Curiosidade – Trata-se da possibilidade de se espantar, de colocar questões, de ter vontade de conhecer.
Nível 0 |
Nível 1 |
Nível 2 |
Nível 3 |
Acção do Professor |
Mantém-se inactivo, não se interessa. Não significa que não tenha curiosidade mas não a manifesta nos trabalhos propostos | Olha superficialmente, pode mesmo propor, tocar, manipular mas sem fio condutor nem finalidade real. | Faz pontualmente prova de curiosidade, de espanto, coloca questões factuais, por vezes deslocadas do assunto abordado | É capaz de se espantar, coloca questões precisas em relação directa com o assunto. Mantém a curiosidade desperta nas actividades de investigação | Apresenta situações de rotura (situações problema), induz a confrontação e a crítica. |
Criatividade – Trata-se da capacidade de colocar hipóteses pertinentes (o que não quer dizer correctas), de inventar meios para encontrar respostas através de meios próprios, mas também de argumentar.
Nível 0 |
Nível 1 |
Nível 2 |
Nível 3 |
Acção do Professor |
Contenta-se em repetir, em copiar, em aplicar | Imagina e cria colocando em relação dois elementos próximos | Cria colocando em relação elementos conhecidos mas distintos. Pode colocar diferentes hipóteses | Imagina relações múltiplas e novas entre as coisas. É capaz de discutir sobre a pertinência das suas hipóteses | Incita à colocação de hipóteses, à invenção e à realização de experiências, estimula e valoriza a investigação de explicações e da argumentação. |
Confiança em si, vontade de investigar – Trata-se do impulso que, face às questões que se colocam, dão vontade de encontrar respostas sem simplesmente as perguntar e sem ter medo de se envolver, sem se desencorajar.
Nível 0 |
Nível 1 |
Nível 2 |
Nível 3 |
Acção do Professor |
Passivo, espera que tudo venha do Professor ou dos outros alunos | Entra numa investigação se lhe pedem, se o encorajam, se o guiam passo a passo. | Pesquisa por ele mesmo (ou no seio de um pequeno grupo) e para rapidamente em caso de insucesso se não o encorajam vivamente. | Realiza uma investigação por ele mesmo ou em pequeno grupo) prevê várias possibilidades de investigação e ultrapassa os insucessos relativos | Permite aos alunos realizar as suas próprias investigações seguindo, pelo menos em parte, os seus próprios percursos. |
Abertura aos outros no trabalho de grupo, comunicação – Trata-se da capacidade de tomar em conta os outros na altura de um trabalho comum quer na escuta, quer na simples observação, quer ainda na resolução conjunta de um problema.
Nível 0 |
Nível 1 |
Nível 2 |
Nível 3 |
Acção do Professor |
Ficam isolados, mesmo no seio de um pequeno grupo, não cooperam, não participam a não ser quando é imposto. | Cooperação com os outros apenas quando é necessário. Apresenta o seu trabalho sem, verdadeiramente, procurar fazer-se compreender | Capaz de cooperar temporariamente sem se implicar no trabalho de um modo global. Tem o desejo de comunicar aos outros mas domina ainda mal as técnicas | Implica-se totalmente num trabalho colectivo. Pode desempenhar o papel de líder positivo(que propõe, incita, ajuda na organização … sem se impor). Sabe comunicar aos outros dum modo claro e construtivo. | Permite aos alunos trabalhar em pequenos grupos, deixa-lhes uma certa autonomia e interessa-se pela regulação da relações. Dá importância à apresentação dos trabalhos realizados. |
Pensamento crítico – Trata-se da possibilidade de analisar de um modo construtivo as realizações dos outros mas também o seu próprio trabalho e do mundo que nos rodeia
Nível 0 |
Nível 1 |
Nível 2 |
Nível 3 |
Acção do Professor |
Considera como verdade tudo o que lhe dizem, tudo o que lê. Não coloca questões sobre a qualidade das produções. | Começa a colocar questões a duvidar. Critica mais facilmente os outros sobre a apresentação que sobre o conteúdo. As críticas aos colegas podem estar ligadas a um julgamento negativo | Coloca questões ao trabalho dos outros. Sabe argumentar. | Capaz de pôr em causa certas ideias pertencentes ao senso comum. É capaz de analisar tão bem o seu trabalho como o dos outros e de um modo argumentado. Aceita submeter-se à crítica de outro, olha-a de modo positivo e leva-a em conta. | Incita os alunos a exprimir-se sobre os seus próprios trabalhos e sobre o dos outros, sem julgamento de valores, a fim de que as suas críticas permitam progredir. |
Abertura ao envolvimento – Trata-se da vontade e da possibilidade de se interessar pelo mundo exterior pondo em relação o que é feito na aula e os problemas que se colocam no nosso envolvimento e particularmente na resolução de problemas na prática clínica.
Nível 0 |
Nível 1 |
Nível 2 |
Nível 3 |
Acção do Professor |
Não se questiona em relação ao que o envolve. Não manifesta qualquer interesse por problemas do mundo exterior. | Aceita respeitar os seres vivos e os materiais sempre que lhe é pedido. | Aceita tomar conta dos seres vivos (pacientes, colegas) e respeita os materiais que lhe são confiados sem que isto seja vivido como uma obrigação que lhe é imposta. | Tem a atitude constante de respeitar os seres vivos, os materiais com os quais trabalharão. Sente necessidade de viver num envolvimento agradável e participar na sua valorização. Interessa-se pelos problemas do mundo e por vezes relaciona-os com o que faz na aula. | Faz propostas de trabalho em diferentes contextos culturais (clínico, social, institucional …) e que solicitem diferentes graus de responsabilidade e a utilização de diferentes tipos de materiais. Estabelecer o maior número de vezes possível relações entre o que é estudado na aula e o envolvimento exterior. |
Capacidade de observação
Competências ligadas ao percurso experimental
- Fazer emergir um problema e formulá-lo correctamente
- Colocar hipóteses e pôr em causa as possíveis afirmações gratuitas
- Antecipar os resultados possíveis e prever as suas consequências
- Conceber os meios de testar as suas hipóteses: organização geral, concepção dos procedimentos, procura dos materiais, dos documentos, …
- Praticar o ensaio e erro (o tactear) experimental;
- Elaborar os procedimentos utilizando diferentes tipos de materiais e métodos
- Definir os diferentes factores que podem ser responsáveis por um fenómeno e isolar uma variável
- Experimentar a necessidade de utilizar “experiências testemunho”
- Experimentar a necessidade de medir
- Ser rigoroso, preciso e verificar as causas dos erros ou das aproximações
- Tirar resultados objectivos (e não aqueles que se pensa obter)
- Apresentar os resultados de uma forma científica
- Interpretar os resultados sem ir além do que eles revelam
- Analisar outros exemplos próximos, experimentar a necessidade de generalizar e de formular conclusões (sem generalizar abusivamente)
E de uma forma geral: Ser capaz de raciocinar de modo relativista dialéctico, de se organizar sozinho, em pequenos grupos ou em grandes grupos, de elaborar e preencher um relatório, um projecto, um trabalho, bem como de os avaliar.
Podemos facilmente verificar que através do desenvolvimento das competências é uma pessoa que se constrói.