A fisiologia energética da criança


A criança não é a versão pequena do adulto. O seu crescimento é um processo de “mudar e vaporizar”

O crescimento e desenvolvimento do sistema energético da criança são semelhantes ao dos sistemas estruturais e fisiológicos.

À nascença, cada um destes sistemas é imaturo, embora suficientemente funcional para a continuação do crescimento e desenvolvimento. Quanto mais nova a criança é, mais imaturo é o sistema energético e maior a diferença em relação a um adulto.

Uma criança não é simplesmente uma versão pequena de um adulto.

E, nem todas as crianças apresentam uma fisiologia energética semelhante. O tema “crianças” cobre um grande leque de diferenças energéticas.

A aplicação da MTC à criança tem que ser adaptada à sua idade.

O especialista de MTC tem que ter em conta diferenças pediátricas, patológicas e fisiológicas, e incorporá-las na avaliação e tratamento.

Em geral, a criança começa a vida com uma estrutura mole; insuficiência de qi e de sangue; tendões, vasos sanguíneos e meridianos ainda não formados: o shen instável, qi defensivo fraco, e qi dos órgãos essenciais imaturos.

A teoria do yin e yang, descreve a criança com insuficiência de yang, enquanto o yin ainda não está totalmente gerado.

O yin refere-se à matéria corporal (essência, sangue, fluídos) enquanto o yang se refere às funções dos órgãos internos. Devido à imaturidade do yin e yang, a base material e as funções energéticas das crianças não estão totalmente desenvolvidas.

Normalmente, as crianças têm um bom crescimento se a base congénita for boa e se existirem os devidos cuidados após o nascimento. A sua constituição e as suas funções energéticas desenvolvem-se rapidamente.

Durante o primeiro ano as crianças crescem com mais rapidez do que nos seguintes. No primeiro ano elas crescem 2,5 vezes mais em altura, 3 vezes mais em peso, e desenvolvem a capacidade de se voltar, sentar, levantar e andar.

O seu crescimento rápido indica a predominância do Yang Qi, que caracteriza a tendência geral das crianças.

A pediatria clássica chinesa descreve o percurso normal de crescimento e desenvolvimento, como um processo de “mudar e vaporizar”.

Este processo descreve certas condições de desequilíbrio entre o yin e yang que se manifesta em febre, pulso irregular, e transpiração. Estas condições resolvem-se normalmente em poucos dias, sem tratamento, e são consideradas normais.

“Mudar” refere-se à transformação dos cinco órgãos yin, que ocorre uma vez cada 32 dias (10 vezes num ano).

“Vaporizar” refere-se à transformação das 6 vísceras induzidas por calor acumulado, e ocorre uma vez em cada 64 dias (9 vezes em 576 dias).

Considera-se um acontecimento normal e não uma doença.

No entanto, se as crianças forem devidamente tratadas durante estes períodos, podem ficar menos susceptíveis às doenças.

Para além deste processo, a maior parte das crianças tem condições de choro, febre, falta de apetite, vómitos, diarreia, etc. Episódios periódicos desta natureza são considerados normais e resolvem-se por si mesmos sem tratamento.

Isto pode ser um processo natural se for o caso do corpo da criança estar a fazer um ajustamento ao meio ambiente. Se os sintomas permanecerem ou se se modificarem num padrão regular, o tratamento pode ser indicado.

As doenças normais como (vomitar, diarreia, febre, etc.), e as doenças de crescimento da criança como (sarampo, varicela, etc.) aparecem sempre com muita rapidez. Por norma, estas condições mudam continuamente e podem parecer piores que doenças de adultos. Isto deve-se ao facto das reservas de qi, sangue e líquidos orgânicos etc. serem limitadas, e doenças fortes e demoradas depressa gastam todas as reservas.

Consegue observar-se a natureza mutável das doenças e o comportamento das crianças através do pulso. Existem vários factores que contribuem para este dinamismo, que incluem a observação das deficiências e excessos inerentes dos órgãos.

 

Autor

Departamento de Pediatria, ESMTC. Revisto por Deolinda Fernandes (Especialista de Medicina Tradicional Chinesa).