Costumamos pensar no útero apenas como parte do sistema reprodutor feminino. Mas ele é muito mais do que isso.
Pelo útero passam importantes interações ao nível da energia e das emoções, com influência no bem-estar da mulher.
Na Medicina Tradicional Chinesa o útero é uma das vísceras curiosas do Rim e está ligado a este pelo meridiano do útero ou Bao Luo. A ligação entre os dois ultrapassa uma mera ligação física. O Rim possui uma conexão com a parte ancestral e com a energia Jing, ligando o útero à linhagem familiar feminina, dando-lhe resistência e flexibilidade e ligando-o, também, à força motriz da água.
O útero liga-se ainda ao coração pelo canal do coração ou Bao Mai, ligação que se prova de extrema importância, não só ao nível físico, por abastecer o útero de sangue, mas também ao nível emocional, uma vez que o sangue é a base material do nosso pensamento. A mulher que tem o útero com um bom aporte sanguíneo e uma boa ligação ao coração beneficia de um pensamento linear, sólido e consistente.
Durante a vida adulta, O útero funciona como um reservatório de sangue que acompanha a mulher durante a sua vida reprodutora e funciona por ciclos. Incha e desincha todos os meses com a menstruação, devido à formação e à destruição mensal do endométrio. Ocorrem ciclos que pautam o comportamento feminino que, após a menopausa, tende a ser mais linear e menos cíclico. No final desta fase ele descansa, mas não dorme. O útero mantém-se ativo, conferindo força, dinamismo e clareza mental à mulher.
A relação entre as emoções, o útero e o cérebro é de extrema importância para a saúde mental e física da mulher. Se ela perde muito sangue durante os períodos tem tendência para um pensamento menos coeso e apresenta-se mais “aérea”, ou se há pouco fluxo ou é inexistente a mulher pode apresentar irritação, choro e depressão. É importante que este ponto seja observado pelo terapeuta, pois estas mulheres terão maior propensão para tomar algum tipo de suplemento para estabilizar o humor.
O útero funciona como uma “esponja” emocional. Ele absorve toda a informação que entra pela vagina. As memórias de abusos, abortos e sexo não consentido ficam retidas no útero provocando estagnação de energia.
Tanto a linguagem do coração como a do rim são processadas pelo útero. Quando ele não “digere” acumula as emoções em forma de miomas, endometriose, adenomiose, etc.
Se a mulher não tem uma boa relação consigo própria e desvaloriza a relação com o seu útero, este, mais cedo ou mais tarde, vai apresentar algum problema. Para a medicina ocidental trata-se de algum desequilíbrio hormonal. Mas não nos podemos esquecer que o equilíbrio hormonal é um jogo entre a mente (hipófise) e os ovários, pois há hormonas que são produzidas pelos ovários e outras pelo cérebro.
Assim, se o pensamento não é equilibrado e se estamos atentos às emoções da mulher, este frágil equilíbrio pode ser quebrado, dando lugar a eventuais patologias mais sérias.
O facto de o útero estar ligado ao coração e à sua energia subtil (Shen), assim como ao Rim e à sua energia mais densa (Jing), lembra-nos que a força feminina depende do equilíbrio entre estes dois órgãos e que ambos precisam de estar de saúde para que o útero esteja saudável e feliz.
Da próxima vez que meditar, leve a energia do seu coração até ao útero, dê-lhe atenção. Verá que é a melhor forma de preservar a saúde do seu aparelho reprodutor e serenar a sua mente.
Em resumo, o útero é muito mais do que um simples órgão para gerar vida. Ele também pode funcionar como uma excelente incubadora de ideias e projetos, usando a energia feminina como propulsor de novos desafios.
Autor: Especialista de Medicina Tradicional Chinesa Paula Madeira