Compor uma fórmula de Fitoterapia


Cada planta tem uma função própria

A construção de uma fórmula na Fitoterapia obedece a uma hierarquia, onde cada planta tem uma função própria.

A prática da Medicina Chinesa consiste na teoria, estratégia, fórmulas e substâncias usadas. Uma fórmula é feita através da configuração particular de cada substância e a sua aplicação é ditada segundo os princípios de organização da estratégia do tratamento.

A fórmula escolhida deve ser coerente com a estratégia do tratamento. Se não o for, as condições do paciente não melhoram ou podem piorar.

As fórmulas da Medicina Chinesa não são meras colecções de substâncias medicinais em que a acção de uma planta é simplesmente adicionada a outras. As fórmulas são compostas de substâncias que se interrelacionam, tendo cada substância uma acção que afecta as acções das outras substâncias da fórmula.

É esta complexa interacção que torna uma fórmula tão efectiva, mas também as torna mais difíceis de estudar.

Cada substância medicinal tem uma determinada acção, uma determinada força e as suas fraquezas.

Uma fórmula efectiva é aquela em que as substâncias são cuidadosamente equilibradas para acentuar as forças (acções) e reduzir os efeitos colaterais. A combinação de substâncias numa fórmula cria um agente terapêutico novo, capaz de tratar mais efectiva e completamente que uma simples substância.

Para se compreender como as substâncias interagem umas com as outras, é preciso compreender as acções e as características de cada substância. É necessário ficar familiarizado com determinadas combinações, as quais são como os alicerces das fórmulas.

Construir uma fórmula efectiva é mais do que juntar as substâncias médicas. É preciso conhecer e seguir um princípio de construção, para que os ingredientes fiquem combinados de uma forma equilibrada e efectiva. Esta construção, esta forma de combinar as fórmulas, é conhecida por Hierarquia.

 

A Hierarquia numa Fórmula de Fitoterapia

Na sociedade Chinesa antiga havia uma consciência muito forte das classes sociais ou, mais precisamente, dos postos militares, em que o Imperador e a sua corte eram o principal, o topo. Por essa razão os termos usados para classificar as substâncias numa fórmula são baseados nesta ordem da corte. Os 4 “postos”, ou seja, as 4 nomenclaturas dadas são: Imperador (Jun), Ministro (Chen), Assistente (Zuo) e Mensageiro (Shi).

Imperadora (Monarca, chefe, rei, principal, governador) é toda a substância que tem o efeito mais forte e que actua directamente contra a síndrome principal ou doença. Esta substância é absolutamente indispensável numa fórmula.

Ministra (Deputado, ajudante, associado) refere-se a duas funções diferentes: a) Ajuda a planta Imperadora a tratar a síndrome principal ou doença. b) Actua como a substância principal directamente contra um síndrome coexistente ou doença.

Assistente (Ajudante) refere-se a 3 funções: i)  Reforça os efeitos da substância Imperadora ou Ministra, ou trata directamente um aspecto menos importante da síndrome ou doença. Nesta capacidade é conhecida como Assistente útil (zuo zhu); ii) Modera ou elimina a toxicidade da Imperadora ou Ministra, ou modera as suas propriedades ásperas. Nesta forma é conhecida como Assistente correctiva (zuo zhi) e iii) Tem um efeito oposto à Imperadora e é usada em doenças sérias e complexas. Nesta forma é conhecida como Assistente oposta (zho fan)

Mensageira (enviado, guia, condutor) refere-se a 2 funções diferentes: a) Foca as acções da fórmula num determinado canal ou meridiano ou numa determinada área do corpo e b) Harmoniza e integra as acções das outras substâncias

Nem todas as fórmulas têm a hierarquia completa. É até mesmo difícil encontrar uma fórmula que contenha os vários tipos de Ministros, Assistentes e Mensageiros. Algumas fórmulas consistem numa Imperadora e numa ou duas Ministras. Se as Imperadoras e Ministras não forem tóxicas, não haverá necessidade de existirem substâncias Assistentes correctivas. Às vezes a Imperadora foca-se no nível e local da doença, não necessitando de uma substância Mensageira.

Autora: Ana Rita Lopes e equipa ESMTC (2021)