O Qi indica a actividade fisiológica dos tecidos orgânicos. Quando utilizado com este sentido, refere-se às actividades complexas e funcionais de qualquer órgão.
Tal como os filósofos chineses, os médicos de Medicina Tradicional Chinesa (MTC) vêem as inter-relações entre o Homem e o Universo e consideram o Qi do ser humano como um resultado da interacção entre o Qi do Céu e da Terra.
No Livro das “Questões Simples”, no capítulo 25 refere-se: “Um ser humano resulta do Qi Celestial e Terreno…. à união do Qi do Céu e da Terra chama-se ser humano. Isto indica a interacção entre o Qi do ser humano e as forças naturais.”
A medicina chinesa enfatiza a relação entre os seres humanos e o seu envolvimento, que leva em consideração na determinação da etiologia, do diagnóstico e do tratamento. É importante relembrar que a teoria da medicina chinesa não evoluiu de modo linear, de uma preposição a outra. Pelo contrário, aprender Medicina Chinesa é como transitar da aprendizagem de um desenho simples a um bem mais elaborado. O todo está sempre presente. O Yin e o Yang estão sempre presentes, mas o contexto em que são entendidos e com que se relacionam vai sendo enriquecido.
Existem dois aspectos do conceito de Qi que são importantes:
- o Qi é uma energia que se manifesta simultaneamente nos níveis físico e espiritual.
- o Qi está num estado constante de fluxo e de variação do estado de agregação. Quando se condensa, a energia transforma-se e acumula-se em forma física.
De acordo com os chineses, existem diferentes tipos de Qi humano, evoluindo do ténue e rarefeito, ao muito denso e impuro. Contudo todos os tipos de Qi são um só que se manifesta de diferentes formas. Deste modo, é importante ver o universo e, particularmente, o Qi simultaneamente. Por um lado, só há uma energia Qi que assume formas diferentes, mas por outro lado, na prática também é importante apreciar os diferentes tipos de Qi.
O Qi altera a sua forma de acordo com a sua localização e função. Embora seja fundamentalmente o mesmo, ele assume diferentes funções. Por exemplo, o Qi nutritivo existe no interior do corpo. A sua função é a de nutrir, e é mais denso do que o Qi defensivo. que está no Exterior e protege o corpo. Um desarranjo quer do Qi nutritivo, quer do defensivo, acarretará manifestações clínicas diferentes e requererá diferentes tipos de tratamento. E por último esses desarranjos não são mais do que duas manifestações diferentes da mesma energia Qi. Na Medicina Chinesa, o termo “Qi” reveste dois aspectos fundamentais:
1. Indica a essência refinada produzida pelos órgãos internos, que tem por função nutrir o corpo e a mente. Esta essência refinada toma várias formas dependendo da sua localização e função. Por exemplo o Zong Qi está no peito e nutre o coração e os Pulmões. O Yuan Qi está no aquecedor inferior e nutre os Rins.
2. O Qi indica a actividade fisiológica dos tecidos orgânicos. Quando utilizado com este sentido, ele não se refere a uma substância refinada (como no ponto 1), mas apenas às actividades complexas e funcionais de qualquer órgão. Neste sentido podemos falar do Qi do pulmão, do Qi do Baço, do Qi do Estômago, etc.
De acordo com Auteroche e Navailh, estes dois aspectos do Qi têm relações recíprocas; o primeiro é a base do segundo, sendo que o segundo é a manifestação da actividade do primeiro.
Produção da energia
O Qi no Homem resulta: da energia do Céu anterior (xiantian) ou do Jing Qi inato recebido dos pais na altura da concepção; da energia do Céu posterior (houtian), o Jing Qi adquirido que é retirado dos alimentos. do Qi do ar que se junta ao anterior. O Jing Qi adquirido une-se ao inato e formam o Yuan Qi, que é armazenado entre os Rins. O Yuan Qi participa em todas as actividades do corpo humano, constituindo a sua energia vital.
O Jing Qi adquirido sobe pela acção de transporte do Baço aos Pulmões, onde se junta ao Qi do ar e forma o Zhong Qi, pela acção do Yuan Qi. Por sua vez, o Zhong Qi transforma-se em Zhen Qi pela acção do Yuan Qi e do Qi do Coração. A parte mais nutritiva do Zhen Qi circula nos meridianos e a parte mais subtil, mais Yang, circula à superfície da pele, no espaço entre a pele e os músculos.
Na produção da energia verifica-se, deste modo, uma cooperação das funções do Rim/Baço/Estômago/Pulmão na reunião da energia pré-natal com a energia dos alimentos e com a energia do ar, a qual por sua vez vai ser distribuída por todas as partes do corpo.
Órgãos e vísceras mais importantes para a produção de energia
Na produção do Qi existe um contributo relativo dos diferentes órgãos Zang-fu. Os órgãos mais implicados na produção de energia são os Rins, o Baço, o Estômago e o Pulmão. Aos Rins compete armazenar o Yuan Qi. Ao Baço/Estômago a recepção (shouna), decomposição (fushu) dos alimentos, bem como o transporte e transformação (yunhua) das essências subtis dos mesmos em energia. Ao Pulmão a recolha da energia do ar exterior (qingqi) e o governo da energia já formada.
Ana Varela e Lurdes Carvalho, ESMTC. (Especialistas de Medicina Tradicional Chinesa)