Estórias do Oriente
Episódio #2 Podcast ESMTC
Buda atravessava uma aldeia e as pessoas aproximavam-se dele e insultavam-no. Elas empregavam todas as palavras insultuosas que conheciam – todos os palavrões que sabiam.
Buda ficou ali, a ouvir em silêncio, atentamente, e depois disse:
“Obrigado por virem ao meu encontro, mas estou com pressa. Tenho de ir para a próxima aldeia, as pessoas estão à minha espera. Não posso dispensar-vos mais tempo hoje, mas amanhã, quando regressar, terei mais tempo. Poderão reunir-se de novo e se alguma coisa ficou por dizer, poderão fazê-lo amanhã. Mas hoje terão de me desculpar.”
Aquela gente nem queria acreditar no que os seus ouvidos tinham escutado, no que os seus olhos tinham visto: aquele homem permaneceu absolutamente impassível, imperturbável.
Então, uma delas perguntou:
“Não nos ouviu? Temos estado a ofendê-lo de todas as maneiras e você nem sequer respondeu.”
Buda retorquiu:
” Se queriam uma resposta, então chegaram demasiado tarde. Deveriam ter vindo há dez anos, na altura em que eu vos teria respondido. Mas durante esses dez anos deixei de ser manipulado pelos outros. Já não sou um escravo, sou o meu próprio dono. Atuo de acordo com a minha paz interior. Não me podem forçar a fazer uma coisa. Está tudo bem – quiseram ofender-me, pois ofenderam. Sintam-se realizados; fizeram o vosso trabalho muito bem feito. Mas no que me diz respeito, não aceito os vossos insultos e, a menos que os aceite, eles perdem qualquer significado quando penetram na minha paz interior.”
Quando alguém o insulta, se se torna um receptor, se aceita o que essa pessoa diz, só poderá reagir e entrar no estado do outro.
Mas se não aceitar, se simplesmente permanecer indiferente, se mantiver as distâncias, se ficar calmo, o que pode essa pessoa fazer?
Buda disse:
” Alguém pode atirar uma tocha em fogo para o rio. Ela permanecerá a arder até atingir a água. Assim que cair no rio, todo o fogo se extinguirá – o rio arrefece-a. Pois eu tornei-me um rio.
Vocês atiraram-me ofensas – elas são fogo quando as atiram, mas mal me atingem o seu fogo perde-se na minha frieza. Elas já não doem. Vocês atiram espinhos, mas ao caírem no meu silêncio eles convertem-se em flores. Eu actuo fora da minha própria natureza intrínseca.”
Ficha técnica
Título: Transforma-te num rio
Sonoplastia: ESMTC
Contadora desta estória: Inês Lomba