A compreensão e o conhecimento da teoria dos 5 movimentos é essencial para entender as relações entre o Homem e o Universo, bem como as relações entre os diferentes órgãos e sistemas energéticos que o constituem.
A Teoria do Yin e Yang (Prof. Ana Varela e Prof.a Lurdes Carvalho)
A Teoria do Yin e Yang é uma das teorias principais na base da Medicina Tradicional Chinesa.
As Professoras Ana Varela e Lurdes Carvalho são Professoras no Curso de MTC da ESMTC há mais de 10 anos.
O desenrolar de todos os fenómenos no Universo resulta de uma inter-relação entre dois estados opostos, simbolizados pelo Yin e Yang.
A primeira referência ao Yin e Yang surge no “Livro das Mudanças” (I Jing) – 700 a.C. Neste livro, o Yin e o Yang eram representados por linhas interrompidas e não interrompidas. A combinação destas linhas pode formar:
Os 64 hexagramas é suposto simbolizarem todos os fenómenos possíveis do Universo que, como se pode constatar, dependem da relação dos dois pólos Yin e Yang. A escola do Yin-Yang que surgiu, juntamente com outras, no período que mediou os anos 476-221 a.C., desenvolveu a teoria do Yin/Yang ao seu nível mais elevado. Dedicou-se também ao estudo dos 5 elementos ou movimentos e o seu expoente máximo foi Zou Yan (350-270 d.C.). A escola do Yin-Yang é chamada muitas vezes a escola naturalista por utilizar estas duas teorias na interpretação da natureza e das suas leis de um modo positivo. O estudo da natureza, incluindo o corpo humano e a doença, é feito não para a subjugar, mas para a compreender e beneficiar do seu envolvimento, ao agir em conformidade com ela. O trabalho desenvolvido por esta escola tornou-se uma herança comum às outras escolas de pensamento nas dinastias subsequentes, nomeadamente nas dinastias Song, Ming e Qing, que integraram esse conhecimento para formar uma filosofia coerente da Natureza, da Ética, da Ordem Social e da Astrologia. Conceito da Natureza do Yin-Yang Os caracteres chineses para o Yin e para o Yang estão relacionados com o lado escuro e o claro de uma colina ou montanha. O caracter Yin indica o lado sombrio, escuro, ao passo que o caracter Yang indica o lado claro, ensolarado da montanha. Yin-Yang como duas fases de um ciclo A observação do Yin e Yang, como fases de um ciclo, resultou da observação, da natureza e dos seus ciclos de transformação por, camponeses. Deste modo, surge a observação da alternância do dia e da noite. Dia-Yang; Noite-Yin. A observação do céu (redondo) – Yang e da terra (plana) – Yin. Do céu que contém o Sol, as estrelas e a lua – e portanto significa o Tempo-Yang. Da terra que se divide em campos de cultivo e portanto é o Espaço-Yin. Como o Sol-Yang nasce a Este, Este é Yang; e como se põe a Oeste – o Oeste é Yin, etc. Os Pontos cardeais surgem de acordo com um observador que se orienta virado para o Sul, para o Sol (imperador); em vez de para o Norte, para a terra (súbditos). Deste modo a Esquerda – é Yang, e a Direita – é Yin. Surgem então as primeiras correspondências:
Todo o fenómeno no Universo alterna de acordo com um movimento cíclico de altos e baixos, e a alteração do Yin e Yang é a força motivadora desta alteração e desse desenvolvimento. Então, o desenrolar de todos os fenómenos no Universo resulta de uma inter-relação entre dois estados opostos, simbolizados pelo Yin e Yang, e cada fenómeno contém, ele próprio, os dois aspectos em diferentes estados de manifestação Yin e Yang.
De um outro ponto de vista, Yin e Yang representam dois pólos de transformação porque por eles passam todas as coisas no Universo. E ao passarem por esses dois pólos as coisas transformam-se. A água dos lagos e dos mares (Yin) aquece e evapora-se (Yang) durante o dia para voltar a condensar-se em água. A forma pode então ser mais ou menos densa. O Yang representa o imaterial e o Yin o mais material. O Yin e o Yang também representam dois estados opostos de agregação das coisas. Então o Yang representa a energia mais pura e o Yin a energia mais densa – a matéria, e deste modo matéria e energia são um continuum com numerosos estados de agregação. No livro das Questões Simples no capítulo 2 «Yin é quietude, Yang é acção. O Yang dá vida, o Yin fá-la crescer… O Yang é transformado em Qi, Yin é transformado em vida material.»Como o Yang também corresponde à criação e à actividade, corresponde também naturalmente à expansão e à subida. O Yin corresponde à condensação e à materialização e naturalmente também à contracção e à descida. Então surgem novos aspectos de correspondência Yin e Yang.
A relação de interdependência do Yin -Yang pode ser representada pelo célebre símbolo chamado “diagrama do derradeiro final” (Tai Qi). O diagrama é um arranjo simétrico entre o escuro do Yin e a luminosidade do Yang, mas esta simetria não é estática. É uma simetria embebida num sentido de rotação, sugerindo, de uma forma intensa, um movimento cíclico contínuo: O Yang regressa ciclicamente ao seu início, o Yin atinge o seu máximo e cede lugar ao Yang. Os dois pontos do diagrama simbolizam a ideia de que, ao alcançarem o seu máximo, as duas forças contêm em si a semente do seu oposto. Os pontos principais da interdependência do Yin-Yang são: a) Embora sejam estados opostos, Yin-Yang formam uma unidade e são complementares. b) O Yang contém a semente do Yin e vice-versa. c) Nada é totalmente Yin ou totalmente Yang. d) O Yang transforma-se em Yin e vice-versa. |
O Yin e o Yang relacionam-se num estado de equilíbrio permanente, o qual é mantido por ajustamentos dos níveis Yin e Yang.
A teoria do Yin e Yang apresenta 3 elementos-base:
1) Oposição do Yin e YangA oposição não é absoluta, é relativa. A qualidade Yin ou Yang não é intrínseca, mas sim em relação a outra coisa qualquer. Por outro lado, embora todas as coisas contenham Yin e Yang estes não estão nunca presentes numa relação estática de 50/50, mas num equilíbrio dinâmico e em mudança permanente. 2) Relação recíproca do Yin e Yang
O Yin e o Yang são opostos mas não podem existir um sem o outro. A essa relação mútua designa-se “raiz recíproca”. 3) Crescimento e decrescimento do Yin e YangConsumo mútuo do Yin e YangO Yin e o Yang relacionam-se num estado de equilíbrio permanente, o qual é mantido por contínuos ajustamentos dos níveis relativos de Yin e Yang. Quando, quer o Yin quer o Yang estão desequilibrados, eles afectam-se necessariamente um ao outro, alterando a sua proporção e ocasionando um novo equilíbrio. Deste modo, para além do estado normal de equilíbrio Yin e Yang, existe uma infinidade de estados possíveis de desequilíbrio, dos quais destacamos 4 fundamentais:
A inter-transformação do Yin em YangExistem duas condições para a transformação do Yin em Yang: a) É necessário que existam condições internas – as coisas só se transformam porque existem primeiramente condições internas para que isso aconteça e só, secundariamente, condições externas. b) É necessário o tempo certo. O Yin e o Yang só se podem transformar um no outro num determinado estado de desenvolvimento. |
Autoras: Prof. Doutora Ana Varela e Prof.a Dr.a Lurdes Carvalho, Especialistas de Medicina Tradicional Chinesa, ESMTC |
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Yuan, Jing e Zong – O Céu, a Terra e o Ser Humano – Parte 3 (Prof. Juvenal Branco)
São 3 as energias hereditárias: a que vem do Cosmos, a essência vital do nosso corpo e a que está ligada a todos os ritmos biológicos. Descubra-as.
As 3 energias hereditárias (Yuan, Jing, Zong)
Dizer que o Ser Humano é o ponto de contacto entre o Céu e a Terra significa que é também o elo de uma cadeia que liga o infinito do Céu ao infinito da Terra. É um modo para exprimir a eternidade.
Os chineses exprimem esta ideia da vida transmitida de um ser ao outro, desde tempos infinitos, através de uma ideia dinâmica: a dos sopros hereditários ou energias ancestrais.
As energias ancestrais ou hereditárias são três, como tudo aquilo que se refere à Criação. Na numerologia chinesa, três é o número que define os meios na origem de cada Criação. Estas energias são chamadas: Yuan, Jing e Zong.
Yuan
Significa “o que surge”, representa o mistério da vida, aquela energia formidável que vem do Cosmos e faz com que, da união de duas células, nasça um ser vivo. É esta mesma força que preside à formação da Terra, das plantas, das estrelas, à criação do Homem, dos animais, etc.
Com efeito, Yuan é a vida que nos é dada, que tem uma duração limitada, definida e que cada ser, mediante uma certa disciplina de vida, deveria procurar levar até ao fim que lhe está fixado, sem a desperdiçar com excessos de fadiga, sentimentos, alimentos, bebidas, etc. Yuan pertence ao “Céu anterior“, que é origem e fim de cada coisa.
Jing
É a essência das coisas; é a essência vital das duas células primordiais, óvulo e espermatozóide, cuja fusão não será produtiva, senão graças à intervenção de Yuan.
Jing existe em todas as coisas e é a origem de cada coisa. É o ovo, do qual emana cada vida, que será mantida pela indução dos outros jings, provenientes tanto da alimentação como da respiração. Contrariamente ao yuan, que é energia pura, jing representa a matéria-prima, indiferenciada, o material de base de cada coisa, a substância fundamental, da qual será formada cada célula do nosso corpo. Porém, só será vital depois depois de ter sido animada pela energia vital yuan. Jing tem a sua origem no “Céu anterior” e mantém-se activo graças ao “Céu posterior“.
Zong
O ideograma que representa Zong significa “ancestral”. É representado pela hereditariedade transmitida de pai para filho. Porém, não se trata somente de uma hereditariedade no sentido biológico do termo, que se traduz por um certo aspecto tipológico, fisiológico ou patológico. Zong é também o que faz com que um ser pertença a uma raça, a um clã, a uma família, com hábitos, costumes e modos de ser. Por isso, Zong está ligado, no corpo, a todos os ritmos biológicos e, em particular, aos mais visíveis, que são a respiração e a circulação do sangue. Zong pertence ao “Céu posterior”. Provém dos progenitores e vai sendo mantido activo no corpo, graças à alimentação e à respiração que têm uma importância essencial na manutenção das características vitais.
Prof. Guilherme Juvenal Branco, acupuntor e especialista de Medicina Tradicional Chinesa, precursor da Dietética Chinesa em Portugal (revisão equipa ESMTC, 2020)
As origens do Chi - O Céu, a Terra e o Ser Humano - Parte 1
As origens do Chi - O Céu, a Terra e o Ser Humano - Parte 2